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Mudanças de Estrutura na Crítica Literária dos EUA

New York Magazine perfilou a crítica literária Michiko Kakutani, por ocasião da sua saída da equipe do New York Times, jornal em que atuou por 38 anos (acesse seus textos). Não conhecia a autora — aprendi que ela se enquadra na figura do crítico temido no meio, cujas avaliações podem consagrar novatos ou levar abaixo estrelas da área (no Brasil, isso se aplica a nomes como Barbara Heliodora, para o teatro, e Aracy Amaral, para as artes visuais). A matéria é interessante não só por dar alguma noção de como Michiko trabalha como por delinear as modificações nas maneiras de fazer jornalismo cultural nos Estados Unidos.

A crítica é elogiada pela sua operosidade (se adequa a outro elemento da mitologia jornalística: escreve artigos com perspectivas únicas e com consistência em pouco tempo) e pela sua capacidade de “sintetizar muitas correntes tanto da cultura como da política”. Um dos motivos de sua saída, aliás, foi por não terem lhe permitido se tornar uma colunista de política (pelo que parece, a separação entre opinião e informação é estrita assim no NY Times). Michiko deixa o jornal também para se dedicar mais ao livro The Death of Facts, uma “história cultural dos ‘fatos alternativos'”. Podemos imaginar que tratará com profundidade de fake news e pós-verdade. A ver.

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Quanto às mudanças na crítica literária, destacam-se três mudanças:

Meanwhile, the Times became a tougher place for critical gods. Lone wolves hurling thunderbolts from their garrets gave way to affable co-critics doing online chats, Times Talks, and video clips, writing personal essays and exploring their own biases. (…)

O crítico deixa de ser um “lobo solitário”. É pedido a ele que seja mais pessoal, não só nos textos quanto interagindo diretamente com o público. Talvez por isso a Atlantic tenha artigos que são como mesas redondas entre seus críticos e a Los Angeles Review of Books traga textos entre depoimento e ensaio no seu Dear Television (ambos os exemplos linkados são da cobertura de Game of Thrones). A postura dialógica, porém, não é única dos nossos tempos: diz-se que as críticas teatrais de Décio de Almeida Prado são marcadas por isso.

Também a hierarquia da produção se transformou:

Lead critics are going out of style across the paper; there are now “co-chief critics” in art, theater, and film, and after Kakutani’s departure, no book critic will have the right of first refusal. (…)

Michiko podia escolher, antes dos demais, quais livros gostaria de resenhar. De acordo com quem trabalhava, isso gerou mais ou menos dificuldades de conciliação. De todo modo, esse privilégio deixa de ser uma possibilidade na redação. A distribuição dos livros passa a ter, além disso, um direcionamento maior dos editores, para evitar retrabalho e direcionar esforços. Nesse sentido:

Critics now meet with editors to brainstorm new elements and submit their pitches to the will of the collective. It’s a sea change for the daily, where critics had barely interacted with either editors or each other, and where, per two sources, Kakutani had sometimes been allowed to choose her editors and even copy editors.

Isto é, há um componente colaborativo mais intenso na criação das críticas. A autonomia do crítico se torna menor — torna-se? O isolamento (palavra propositadamente negativa) era mesmo benéfico? Ganha-se mais trazendo as ideias estéticas ao debate?

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