Em 1984, no New York Times, uma carta ao editor comenta o gênero das biografias literárias, que havia sido criticado por algum colaborador do jornal. O correspondente define o valor irredutível de uma obra do tipo:
Everybody is interesting. Every person has a key, a source. Everybody has been moved by parents, abused by friends, dismayed by fears. To say that nothing has happened to this man is to view him from such a great distance and immense indifference that every effort should be made to abandon the project.
“Todos são interessantes. Todas as pessoas tem uma chave, uma fonte. Todos foram afetados pelos pais, abusados pelos amigos, desanimados pelos medos. Dizer que nada aconteceu a este homem é vê-lo de uma distância e com uma indiferença tamanhas que qualquer esforço deveria ser feito para abandonar o projeto.” Se o crítico nada vê em uma vida, portanto, a falha está no crítico. As vidas são ricas.
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Há nesse mesmo texto uma definição interessante do que é ser criativo:
Most people are not creative, in the sense that they haven’t the drive, confidence or talent to let creativity become a dominant factor in their lives.
“A maioria das pessoas não é criativa, no sentido de que elas não tem o impulso, a confiança ou o talento de deixar a criatividade se tornar um fator dominante nas suas vidas.” A criatividade é aí um deixar fluir. Algumas pessoas deixam, outras não. É quase psicanalítico: não conter certas forças dentro de si.