O jornalista Geneton Moraes Neto, que recebeu o prêmio Imprensa Embratel na categoria Televisão pela reportagem “Os Generais Falam“, publicou no seu blog parte do discurso que tinha a intenção de ler na premiação. É um texto bonito. “Deixe o tédio em casa. Jornalismo é olhar o mundo com os olhos de uma criança que estivesse vendo tudo pela primeira vez”. Lembra a capacidade de se maravilhar que eu citei. O restante do post também é interessante e conta uma história envolvendo Joel Silveira e Nelson Rodrigues, mas isso você lê por lá.
—
“Toda atividade – seja qual for – precisa de um lema, uma bandeira, um slogan. O meu poderia ser qualquer outro, mas é : ‘Fazer jornalismo é produzir memória’. O jornalismo pode ser útil, então. Pode jogar luzes sobre o passado. Por que não?
É preciso ter convicção. Pois bem: posso estar errado, mas acredito que fazer jornalismo é olhar o mundo, os fatos, os personagens e as histórias com os olhos de uma criança que estivesse vendo tudo pela primeira vez; somente assim, o Jornalismo será vívido, interessante, inquieto – não este monstro burocrático,chato e cinzento que nos assusta tanto.
Fazer jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de contar o que se viu e ouviu.
Fazer jornalismo é ter a certeza de que não existe assunto esgotado. Há fatos a explicar sobre 1964, por exemplo; tudo pode ser revirado: a crucificação de Jesus Cristo merece ser investigada. Por que não? Jornalista não pode se deixar vencer pelo tédio destruidor – nunca.
Se um estreante perguntasse, eu diria: deixe o tédio em casa. Traga a vida das ruas para a redação. Porque, em noventa e oito por cento dos casos, o que a gente vê na vida real é mais colorido e mais arrebatador do que o que se publica nos jornais ou o que se vê na TV.
Diria também: não faça jornalismo para jornalista. Faça para o público!
Fazer jornalismo é não praticar nunca, jamais, sob hipótese alguma, a patrulhagem ideológica. Ponto. Um general – seja quem for – deve ser ouvido com tanta atenção quanto o mais renitente dos guerrilheiros. Lugar de votar é na urna. Não é na redação.
(eu disse ao general Newton Cruz: não quero parecer bom moço, jornalista vive procurando escândalo e declarações bombásticas, mas, como personagem jornalístico, o senhor me interessa tanto quanto Luís Carlos Prestes, a quem, aliás, entrevistei algumas vezes).
Por fim: fazer jornalismo é desconfiar,sempre,sempre e sempre. A lição de um editor inglês vale para todos: toda vez que estiver ouvindo um personagem – seja ele um delegado de polícia, um praticante de ioga ou um astro da música – pergunte sempre a si mesmo, intimamente: por que será que estes bastardos estão mentindo para mim?
Não existe pergunta melhor.”
Be First to Comment