Na Bravo! de maio, saiu um perfil do fotógrafo Bob Wolfenson, feito por Armando Antenore. Wolfenson trata da sua arte, mas ao falar dela evidencia uma tensão que é própria do jornalismo como um todo, e talvez do documentarismo e de algumas estirpes da produção artística. Acredito com a mesma facilidade que quando ele fala da arte de captar superfícies ele poderia aplicar tudo o que diz à vida, ao próprio cotidiano, que seria também essa batalha cordial entre incorrigíveis trapaceiros.
Mas estou divagando.
“(…) A fotografia é somente a arte de captar superfícies. — Assim que se defrontam com uma câmera, os modelos, quaisquer modelos, buscam principalmente iludir os fotógrafos. Concordam em se mostrar, ainda que não se mostrem de fato. Escondem-se fingindo não se esconder. E tudo porque desejam transmitir para a objetiva a imagem que gostariam de ter em vez da que pensam ter. Do mesmo jeito, assim que se colocam atrás de uma câmera, os fotógrafos, quaisquer fotógrafos, buscam principalmente iludir os modelos. Sedutores, tentam passar a ideia de que irão espelhá-los. Ou melhor: de que irão espelhar aquilo que os modelos sonham ver no espelho. Mas o que os fotógrafos pretendem de verdade é se apropriar das desavisadas criaturas para expressar um pouco de si próprios. Retratos derivam justamente daí, da batalha cordial e silenciosa entre incorrigíveis trapaceiros (…)“