Um trecho da entrevista do quadrinista Ricardo Coimbra ao Scream & Yell:
(…) para ter cena, é preciso ter público, ter mercado e ter crítica. Quando as pessoas vão fazer críticas sobre quadrinhos, são sempre apaixonados, pessoas que querem incentivar a criação de uma cena, e com isso passam muito a mão na cabeça dos autores. (…) uma crítica real, [que] desce a ripa (…) ajuda a cena a ficar madura. Senão, ficamos só com críticas condescendentes. Já vi acontecer com amigos meus e até comigo: o cara escreve algo como “ah, o cara é ruim pra caralho, mas temos que dar força pra cena”… Essa crítica condescendente é a pior coisa! É melhor você destrinchar logo e dar à cena a chance de melhorar. “Ah, porque entendo que o cara teve dificuldades…” Além de isso ser uma conversa fiada do caralho, é algo que não colabora em nada. Você não pode ficar passando a mão na cabeça e aceitando coisas medíocres, aceitando erros que a pessoa poderia melhorar.
Me parece que se trata menos do crítico como gate keeper — alguém que estaria ao término dos processos criativos, como que separando o joio do trigo — e mais de alguém capaz de fornecer um feedback especializado. Alguém que em um diálogo possivelmente ríspido com o artista o força a se desenvolver.
Contraponha-se Coimbra, por exemplo à visão de Barbara Heliodora:
A natureza não precisa de crítica […]. Mas a arte é um produto humano, então ela pode ser analisada. O crítico completa o processo analisando esse produto. Você vai lucrar com a apreciação do crítico e, se você tem um texto que é mais difícil, ele pode escrever a respeito do texto antes da estreia e com isso preparar o público para apreciar o espetáculo. O crítico tem uma função que tanto é ligada ao público quanto ao realizador.
A tradutora e crítica de teatro ressalta a relação do crítico com o público: prepara a apreciação, educa; analisa um produto, indica ou rechaça. Reconhece que a ligação do crítico com o realizador, mas isso se dá mais no sentido de: o primeiro pode ajudar o segundo a chegar no espectador — ou barrar o contato.
Coimbra, por outro lado, vê essa relação no sentido de construção de uma cena (de um contexto criativo, o que envolve o público, mas como um componente) e do aperfeiçoamento das possibilidades de criação.
(O quão distantes ambos estão de Jonathan Russell Clark e do crítico como artista?)