Daniela Pinheiro escreveu, para a piauí, um perfil do pastor Silas Malafaia. Ele é líder da Assembleia de Deus — Vitória em Cristo, seus sermões têm enorme influência, televisados ou no templo e sua arrecadação não fica atrás, vinda através de ofertas e doações. Além disso, é conhecido por seus conflitos com movimentos sociais (gay, feminista, entre outros). A reportagem aborda essas polêmicas e traz um panorama do mundo evangélico — ou, ao menos, de uma parte significativa dele — os ideais e sentimentos que o constituem, e, mais relevante, o poder político, cultural e financeiro que existe aí e do qual Malafaia é a expressão.
Quero destacar um trecho em que a repórter se coloca na matéria. O jornalismo pretende construir uma visão objetiva dos acontecimentos; em um nível ideal, agrega o maior número de fatos relevantes, garante a precisão e a veracidade desses fatos com a variedade de fontes, expõe esses dados de forma hierárquica e de modo a excluir as opiniões pessoais e o próprio jornalista no texto corrente de narrativa. Nesse caso em particular, não foi possível tratar as coisas desse jeito. Ser objetivo, aí, significava outra coisa:
(…) Elizete queria saber se eu acreditava em Deus, se era cristã, se já havia lido a Bíblia, se já havia ido a algum culto evangélico, se havia sido batizada na Igreja Católica. Respondi não a todas as perguntas. Falou-se sobre Deus e o Diabo. Ela afirmou que as forças do mal se empenham a todo instante em impedir que o mundo e o ser humano se aperfeiçoem. “Eu não tenho problema com quem não é cristão, mas você pelo menos acredita no bem e no mal?” “Não no sentido metafísico”, respondi-lhe. Não houve mais perguntas.
Elizete é a esposa de Malafaia. A repórter está em sua casa, juntando fatos relevantes, tendo certeza de que os outros que havia conseguido anteriormente eram precisos e verdadeiros. No entanto, a pergunta que Elizete lhe faz se torna de repente um dado importante: pela expressão da personalidade da mulher e de suas crenças (o que acaba sendo um outro esboço de toda a comunidade); e pela manifestação da relação que se impôs entre entrevistador e entrevistados — indica as reservas que esses últimos podem ter quanto a ela; indica as reservas que o primeiro tem quanto a eles.
Isto é, o quanto o ateísmo ou agnosticismo de Pinheiro é determinante na matéria? E o quanto influiu nos seus resultados do texto? Colocar-se no texto, nesse caso, significou informar ao leitor qual a posição da jornalista no jogo político e cultural que se desenha em sua reportagem.
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Por outro lado, é uma situação de entrevista particularmente difícil: a jornalista responde às perguntas com sinceridade, mas é um ato perigoso. Pode restringir a quantidade e profundidade das respostas que teria ou mesmo afastar definitivamente a entrevistada de si. Como agir em um caso complicado como esse?
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