De vez em quando alguém repara que a São Paulo antiga se desfigura, os prédios imensos tomando o lugar das casas de séculos passados. Talvez tenha surgido daí a inspiração para a pauta de “Três imóveis são demolidos por dia em SP“, matéria do Estadão. O trabalho de reportagem aparece não só na percepção da tendência e do interesse social, mas em revelar a notícia a partir de dados públicos.
O Estado fez o levantamento exclusivo dos imóveis demolidos com base em todos os deferimentos de alvarás de execução de demolição publicados no Diário Oficial de 1.º de janeiro de 2007 até a semana passada. Neste ano, já foram demolidos 204 imóveis. No ano passado, o número chegou a 1.590, enquanto em 2009 foram 933; em 2008, 1.095; em 2007, 891. Com o cruzamento dos dados, é possível ver que os bairros que mais perderam casas foram justamente aqueles cuja identidade sempre esteve ligada a sobrados, palacetes e residências da primeira metade do século passado – como Vila Mariana, Pinheiros, Saúde, Itaim-Bibi, Bela Vista, Consolação e Mooca.
Do senso comum incomodado a um fato, provado por informações do Diário Oficial. Ressalte-se também a habilidade do texto em resumir a notícia de modo didático, usando o comparativo para dar a dimensão da mudança: “Ou seja, enquanto a capital inflou uma São Caetano do Sul de apartamentos, perdeu uma Aparecida d”Oeste de casas”.
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Na edição do mesmo dia, o jornal publicou “Falta de escritórios causa disputa de empresas por prédios em construção“, que fala da escassez de espaços para escritórios de alto nível em São Paulo, o que implica em preços altos e mais demanda para as construtoras. Nesses termos:
A gerente de pesquisa de mercado da Cushman, Mariana Hanania, afirma que o mercado está longe de um “ponto de equilíbrio”. Isso ocorre quando cerca de 15% dos espaços estão vagos – neste patamar, as empresas têm boas opções a escolher, enquanto as administradoras ainda conseguem lucrar com a operação. No entanto, mesmo com o novo estoque, a situação do mercado não deve mudar, na prática. “Um edifício só sai da lista de vacância quando a empresa efetivamente se instala nele. Hoje, porém, as empresas fazem a pré-locação pelo menos seis meses antes do fim da obra.”
É uma matéria que se comunica com a anterior. Saíram em cadernos diferentes: a primeira, no Cidades, a segunda, no Economia – mas os editores poderia ter colocado os textos para conversar, senão na edição impressa, ao menos na internet, o que não ocorre.
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