Editoriais de João Gabriel de Lima, da Bravo!

Publiquei no Digestivo Cultural uma coletânea de trechos dos editoriais de João Gabriel de Lima, que deixou neste janeiro a direção de redação de Bravo!. Neles, o jornalista discute a cobertura feita pela revista e aponta quais os princípios que o guiam: a clareza e a compreensibilidade como valores máximos de um texto; a imersão em um assunto ou pessoa; a ideia do repórter como autor, no sentido forte do termo; a abrangência crítica que deve possuir o jornalismo cultural.
 
Algumas citações ficaram de fora na edição final; esse conteúdo extra segue abaixo. Leia também a minha análise de “Os Exageros de Almodóvar”, matéria de João Gabriel que troca o lead tradicional por um estilo de texto meio Twitter, meio gincana.


Prêmios Culturais
 
Existem duas maneiras de encarar um prêmio cultural. Uma, duvidosa, é a esportiva. Como se na arte houvesse vencedores e derrotados, ou como se estatuetas do tipo Oscar, Urso de Ouro ou Jabuti equivalessem a uma Copa do Mundo. A outra, mais adequada, é levar em consideração o significado cultural de um prêmio. O que ele aponta em termos de tendências e o que a soma de seus indicados e vencedores tem a dizer sobre o espírito de uma época. (Novembro/2010)
 

Revolução na Música e Reality Check

Se a internet foi uma revolução em si, o que ela fez no mundo da música foi a revolução dentro da revolução. (…) Trata-se de uma mudança ao mesmo tempo econômica e cultural. A possibilidade de baixar música pela internet fez com que a indústria fonográfica entrasse em crise e deixou várias perguntas no ar. O CD vai acabar? Os compositores deixarão de pensar seus trabalhos em álbuns, preocupando-se em criar canções individualmente? De que eles viverão? O iPod transformará a audição de música numa experiência solitária? Numa época em que o acesso à obra de diferentes artistas é ilimitado, deixarão de existir os cantores e compositores de massa, aqueles que se tornam símbolos de uma geração?

 
Em momentos assim, surgem profetas de todos os lados, com as mais mirabolantes previsões. Neste cenário, cabe às revistas de cultura fazer aquilo que os ingleses chamam de reality check, expressão quee pode ser traduzida como “teste de realidade” ou “choque de realidade”. Ou seja, confrontar as previsões surgidas de diversas fontes — economistas, consultores, estudiosos do fenômeno cultural — com os fatos, puros e simples em sua concretude. (Março/2009)
 
Inteligível e Instigante
 
O desafio de elaborar um bom texto jornalístico duplica quando ele é elaborado a partir de fontes cadêmicas. Como ensinam os grandes editores americanos, como o lendário William Shawn, da revista The New Yorker, toda grande obra jornalística tem que ser ao mesmo tempo profunda e clara, inteligível para o leigo e instigante para o especialista. (Setembro/2008)
 
Vida Cultural
A vida cultural só existe de fato quando as obras e seus autores começam a fazer parte das conversas das pessoas e, eventualmente, gerar polêmica. (Maio/2008)

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