Fazer história

Fábio Seixas, no caderno Motor, da Folha, notou uma tendência do jornalismo. Em “O domingo em que a F-1 evitou fazer história“, escreveu:

Acostumamo-nos — jornalistas, em especial — a banalizar o conceito de história, uma saída tão fácil como fútil e narcisista de tentar valorizar o que se relata.

“Fulano crava a pole e faz história”, exemplo clássico, para ficar no assunto da coluna — há outros milhares no noticiário sobre tudo. Situações históricas de fato são raríssimas. E uma boa medida para avaliar se algo foi histórico é tentar lembrar, anos depois, onde estava e o que fazia naquele dia.

Você lembra onde estava no 1º de maio de 1994. Você certamente sabe o que fazia no 11 de setembro de 2001. Reflexo deste, a F-1 não esquece o GP da Itália há dez anos. Porque teve um clima único. No mau sentido. (…)

Por outro lado, “situações históricas são raríssimas” é uma afirmação complicada: esconde, em primeiro lugar, os critérios que definem o que é ou não histórico, e que determinam quais acontecimentos serão relegados ao limbo. A cultura dominante, que influencia o jornalismo, será, nesse contexto, o poder que escolhe tais critérios de seleção.

Ainda de outro ponto de vista: como é que um fato pode não fazer parte da história? É tudo registro, é tudo informação. Qual o sentido que se dá aqui à histórico? Marcante de uma forma afetiva? Influente em termos sociais? E a influência da mídia nos afetos? E como saber se as marcas que vemos hoje são realmente importantes, na longa linha do tempo?

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