As recentes revoltas no Egito, assim como a revolução da Tunísia, contaram com expressivo uso das mídias sociais, tanto para mobilização dos protestantes quanto para divulgação dos protestos pelo mundo (o que também ocorreu com Honduras e Irã). Porém, ainda é uma questão aberta se esse uso das redes foi determinante ou assessório às manifestações.
Sobre o caso egípcio, o editor do Digestivo Cultural, Julio Daio Borges, disse: “a internet vai salvar o Egito” e “a internet é a maior revolução no Egito desde os faraós“. No blog de Luis Nassif, Murilo Roncolato definiu as redes sociais como “catalisadoras” da revolta. A blogueira Kátia Figueira usou termos ainda mais fortes e afirmou que “graças a Facebook e Twitter essas pessoas descobriram o poder da mobilização“. Citações que li sem muita procura, mas dão algum senso da situação.
Do outro lado, temos o jornalista americano Malcolm Gladwell (em “A revolução não será tuitada“), que critica a ideia de que as redes criariam as condições para o ativismo e a mudança social. Para Gladwell, elas conseguem causar modificações que não demandem engajamento acima de certo nível, e não possuem outros atributos necessários à verdadeira revolução. Edney Souza, sócio da Pólvora, empresa especializada em mídias sociais, contra-atacou:
O texto traz uma visão retrógrada das organizações sociais; questiona a ausência da mobilização física como os velhos em 1960 questionavam a ausência de armas nos manifestos pacíficos. A revolução está acontecendo a cada segundo, quem procurar por ela nos livros de história vai deixar de enxergá-la bem em frente ao seu nariz.
Outra crítica feita ao texto de Gladwell apontava para o fato de que seu texto não enxerga alguns elementos de efeito sutil, como percebe outro articulista americano, Andrew K. Woods:
E se revelar o status quo é o bastante para modificá-lo? Psicológos falam de um efeito chamado ignorância pluralística — situações em que as pessoas mantém em privado suas verdadeiras preferências porque acreditam que os outros não acreditam ou não vão compartilhar suas crenças. (…) Nestas situações, rápidas mudanças no comportamento podem ocorrer com a mera introdução de informação sobre as preferências reais do meio social [tradução livre]
Woods defende, a partir disso, que as novas mídias permitem a atualização rápida da consciência dos indivíduos a respeito do que pensam os outros a seu redor. A ignorância que causava o silêncio sobre certas causas é quebrada e a mobilização estoura veloz. O jornalista Clóvis Rossi vê o fenômeno por outro ângulo, observando, sim, o poder midiático, mas outro poder midiático:
É razoável imaginar que, mais do que as redes sociais, a revolta da rua tenha tido como fermento a rede Al Jazeera. Explico: as redes sociais servem de ligação para o sentimento íntimo das pessoas; já a rede de TV expõe às massas, com seu jornalismo do tipo ocidental, que há um outro mundo, mais rico em horizontes, do que o cotidiano cinzento da rua árabe, em especial de sua juventude.
Há um certo paralelo com o que aconteceu na antiga Alemanha Oriental, no fim dos anos 80: ninguém passava fome na então Alemanha Oriental, mas ver pela TV que, do outro lado, havia não só vitrinas mais esfuziantes mas também liberdade, levou a uma revolta que derrubou não só uma, duas ou uma dúzia de ditaduras, mas também a única alternativa que se havia levantado contra o capitalismo.
Como disse no começo, é uma questão aberta. Ainda há de se ver aonde a atualidade leva.
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As redes sociais também tiveram muito destaque por causa da eleição de Barack Obama, cujos esforços na internet foram determinantes para a vitória. No Brasil, as últimas eleições sofreram o impacto dessas inovações. No Mediaon ocorreu uma discussão interessante sobre como Dilma, Marina e Serra fizeram uso das novas mídias. Assista.
Vc. não tem noção do orgulho que eu tenho de vc!!!