(…) Na manhã seguinte ao aparecimento do cadáver de madame Fedorovna, dois vigias pegaram um repórter da Interviu no momento em que pulava o arame farpado que demarcava a fronteira entre o Balneário e a natureza livre do morro da Alfarrobeira. Foi o primeiro sintoma de que a notícia do que acontecera no Balneário tinha se transformado em mercadoria informativa, e horas depois uma caravana de carros cheios de jornalistas e fotógrafos chegou às portas da propriedade, detida ou contida por um cordão de guardas civis e seguranças que afirmaram estar cumprindo ordens. Não foi a balbúrdia dos jornalistas protestando que chegou até a área da piscina, e sim o ronrom de um helicóptero que sobrevoou o Balneário enquanto os banhistas cobriam as suas vergonhas e protestavam contra as presumíveis fotografias que estavam lhes tirando das alturas. Os hóspedes do lugar estavam com a consciência dividida: por um lado desejavam ser fotografados e assumir publicamente um papel de protagonista que muitos deles já tinham em reduzidas esferas da sua atividade profissional, e por outro lado temiam o dano que aquela publicidade poderia causar ao seu prestígio profissional, comercial e industrial.
Enquanto isso os jornalistas tinham montado um verdadeiro acampamento delimitado por seus carros, alguns das dos quais dotados e telefone e em condições de transmitir para a redação as notícias sobre as restrições que o seu trabalho encontrava. Primeiro tentaram extrair informações dos guardas civis e dos seguranças, depois tomaram de assalto as caminhonetes de fornecedores que entravam no lugar ou saíam dali, e se penduravam na janela para pedir aos motoristas que lhes dessem notícias do que estava acontecendo lá dentro. Alguém ligou uma rádio FM que só transmitia música e pouco depois os fotógrafos unissex dançaram juntos entre os gritos dos seus colegas. Abriram-se garrafas de uísque e de vinho, e um comando partiu para Bolinches com a missão de comprar presunto, pão e queijo.
— O assédio será longo, mas daqui ninguém nos tira. (…)