O jornal Gazeta do Povo, do Paraná, criou para as eleições municipais um sistema online de avaliação dos candidatos, o CandiBook, aplicável para 14 cidades do estado. O sistema utiliza o Diagrama de Nolan, que por si é fruto de uma corrente política específica, para determinar a posição política de cada um dos candidatos. A escala tem dois extremos — liberdade individual e liberdade econômica — e distribui os elegíveis entre eles, de acordo com dez perguntas.
Segundo tais critérios, dentre os candidatos a prefeito em Curitiba, Avanilson, do PSTU, por exemplo é definido como 70% LI e 30% LE, campo da esquerda. Bruno Meirinho, do PSOL, 50% LI, 10% LE, estatista. É notável que em uma escolha mais senso comum colocaríamos os dois mais próximos. Já o candidato do PDT (de cuja coligação faz parte o PT), Gustavo Fruet, 50% LI, 20% LE, centrista. Um último exemplo: Rafael Greca, do PMDB, repete os resultados de Fruet (todos aqui). O jornal explica o sistema nesta página.
O sistema é interessante porque foge das simplificações do esquema binário esquerda e direita. Mas por outro lado não esclarece as dinâmicas próprias da política, sobrepondo a elas um caráter supostamente científico. Um dos tipos de questão que pode ser colocada é o seguinte: Greca e Fruet, de acordo com a aferição, tem a mesma posição política, não obstante, estão em lados contrários. Quais as gradações de “centrista”, que impediram uma coalisão? Quais os fatores que, independentes de afinidade com o “centro” ou não, implicaram em candidaturas próprias?
Há um outro porém: como sugerido antes, o teste não revela sua origem política, seus fundamentos ideológicos se recobrem de um caráter simplesmente neutro. Uma pesquisa curta no entanto nos leva a outras conclusões. David Nolan, o criador desse diagrama, se inscrevia no âmbito do libertarianismo (“filosofia política que tem como fundamento a defesa da liberdade individual, da não-agressão, da propriedade privada e da supremacia do indivíduo“). Sua posição libertária é a posição de equilíbrio entre os extremos citados no primeiro parágrafo: altas liberdades pessoal e econômica…
A versão brasileira, que serviu de base ao Gazeta do Povo, foi feita pelo Estudantes pela Liberdade — parte daquele campo ideológico. Ela está disponível aqui, e você pode averiguar onde você está no gráfico libertário. Outra opção é o World’s Smallest Political Quiz.
Para uma crítica inicial aos conceitos que fundamentam o Diagrama de Nolan, leia este texto, que critica suas oposições básicas e se pergunta pela ausência de “totalitário”.
Interessante seu teste com a plataforma utilizada pela Gazeta do Povo. De fato, resultados que ajudam a verificar se a plataforma anda funcionando a contento.
Não sei qual dos milhares de significados da palavra "científico" você utilizou neste caso. O que noto, todavia, é que o diagrama é voltado para entender o pensamento político de um indivíduo (mesmo aquele indivíduo que está dentro de um partido), enquanto as coligações partidárias são voltadas para uma eleição, podendo se desmanchar no dia seguinte ao pleito. Não refletem opiniões políticas, mas modelos de enfrentamento na hierarquia eleitoral (típicas de uma democracia multipartidária; são praticamente inúteis em uma democracia bipartidária como a americana).
Assim, um partido socialista pode se coligar a um social cristão para reunir votos com foco no social, embora ambos tenham posições culturais tão opostas quanto um liberal e um socialista possuam quanto à economia. Trata-se de compreensão de uma hierarquia de valores e prioridades que o pragmatismo político exige de um partido.
Assim, o Diagrama em si cumpre a sua função a contento: desconheço quem seja um socialista e diga que defende algo diferente do que significa "socialista" para o Diagrama de Nolan, e assim por diante.
Entretanto, há de ficar claro que o programa utilizado no site criado pelo grupo Estudantes Pela Liberdade não é o próprio diagrama, e sim um brevíssimo questionário para apresentar rapidamente algum provável posicionamento entre as diversas regiões que vão além de "esquerda" e "direita" como realidades totalizantes.
Também noto que Nolan e os libertários não buscam exatamente um "equilíbrio" entre ambos. Apenas demonstram que possuem tanto afinidades com a mais "tradicional" direita (como a liberdade de mercado) assim como com a esquerda (as liberdades individuais).
Desta forma, é claro que pode-se criar questionários cada vez mais detalhados para evitar resultados estranhos, como uma dicotomia tão flagrante entre PSTU e PSOL quanto a que há entre partidos absolutamente mais distintos. Mas é uma questão de criar uma ferramenta mais detalhada para marcar a posição no Diagrama de Nolan original, e não do Diagrama em si.
Eu mesmo fico marcado como "libertário", quando sou um liberal com algum flerte com o libertarianismo, outro com o conservadorismo.